Review: Guns, Gore and Cannoli: uma combinação jocosa, porém divertida

Arthur Pieri 🎮
5 min readJul 11, 2018

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Por ser descendente de imigrantes italianos, sempre gostei muito de massas, principalmente quando minha avó prepara lasanha ou alguma sobremesa italiana. Também sempre admirei filmes clássicos, encontrando em “O Poderoso Chefão” uma trama que retrata a máfia siciliana na cidade de Nova Iorque, mas que também mostra como os italianos são unidos como família. Além disso, recordo-me de como zumbis eram criaturas grotescas e assustadoras em Resident Evil, um dos jogos que mais joguei quando criança.

Thugtown, um lugar perigoso

Quando descobri que há um jogo justamente sobre as três coisas que mais me lembravam da minha infância, não hesitei em adquiri-lo no Switch. Curioso sobre como uma história de mafiosos poderia ser contada em meio a um apocalipse zumbi, eu me perguntei: o que a sobremesa italiana tem a ver com tudo isso?

Apresentando um visual cartunesco autêntico e uma combinação de temas incomum, Guns, Gore and Cannoli é um shoot ’em up 2D resultado de uma parceria entre dois estúdios independentes — Crazy Monkey e Claeys Brothers. Lançado exclusivamente para PC em 2015, o jogo foi portado mais tarde para outras plataformas e chegou ao híbrido da Nintendo em dezembro de 2017.

A década é 1920 e, logo no início do jogo, somos apresentados a Vinnie Cannoli, gangster contratado por um dos chefes da máfia para resgatar um cara chamado Frankie dos perigos de Thugtown (cidade dos bandidos, em tradução literal). A metrópole é controlada por duas famílias rivais, os Bonnino e os Belluccio, que competem pelo contrabando ilegal de bebidas alcoólicas importadas — já que a Lei Seca impede o comércio legal destes produtos. Mas não são somente as máfias que colocam Frankie em risco: por algum motivo, as ruas e telhados estão infestados com zumbis, prontos para atacar e devorar o primeiro cidadão desprevenido.

Inimigo do meu inimigo é… meu inimigo

Misturando elementos de plataforma com seções de run and gun, o título traz mecânicas de tiro e movimentação simples — os disparos podem ser efetuados em pé ou agachado, causando dano em dobro para disparos certeiros na cabeça. Vinnie conta originalmente com oito armas de fogo e dois explosivos (coquetéis molotov e granadas), podendo atingir praticamente tudo em seu caminho — muitos dos elementos do cenário são destrutíveis e podem ser usados para potencializar o dano contra inimigos. Caso você seja atingido ou atacado — você provavelmente se machucará com a quantidade e imprevisibilidade dos inimigos em algumas áreas — , procure pelos deliciosos cannoli, que regeneram parcialmente sua barra de energia.

Falando em inimigos, estes vêm em duas formas: zumbis e mafiosos. Curiosamente, os dois grupos combatem entre si e podem se eliminar caso o jogador não intervenha, o que me fez pensar que, independente do que aconteça, Thugtown está arruinada e não pode ser salva. São prédios que foram derrubados, carros de polícia abandonados e sistemas de esgoto tomados por hordas de mortos-vivos, tudo isso com um capricho da direção de arte do jogo, que o deixou com um visual cel-shaded que faz lembrar histórias em quadrinhos amadoras.

Em contrapartida, as cutscenes não têm uma qualidade tão boa, parecendo um tanto desconexas quando comparadas ao ritmo do jogo — isso sem mencionar o tempo de carregamento entre cenas. As legendas parecem ter sofrido cortes para evitar o excesso de palavrões, linguagem imprópria e gírias. Isso seria menos notável se o jogo tratasse os temas com uma abordagem mais séria, mas o fato de ser mais uma sátira fictícia do que uma crítica não justifica esse tipo de censura. Além disso, apesar do gameplay dinâmico, algumas fases sofrem com a queda de framerate.

As batalhas contra chefões não são frequentes e nem um pouco variadas em termos de como abordar um inimigo poderoso da maneira mais eficaz. A estratégia é sempre a mesma: atirar quando o inimigo abrir a guarda, e se manter protegido embaixo de plataformas cobertas. Por outro lado, a segunda metade do jogo apresenta um pouco de interconectividade nos níveis — em especial, no esgoto — e o jogo começa a desafiar o jogador por habilidades de plataforma, exigindo pulos ágeis e controles mais precisos.

Leve a arma, leve o cannoli

O jogo está recheado de referências ao cinema italiano. O protagonista Vinnie Cannoli, intolerante e corajoso demais, assemelha-se com Sonny Corleone (filho do Poderoso Chefão, idealizado por Mario Puzo) enquanto Mr. Belluccio, obviamente, é uma referência ao próprio Don Corleone — com todos os trejeitos do lendário Marlon Brando. Na opção multiplayer local, incorporamos Paulie, referência ao companheiro de Clemenza que traiu a confiança da máfia italiana, Paulie Gatto.

A trilha sonora é bem simples e combina com a temática do jogo, trazendo ritmos italianos que são populares ao redor do mundo, bem como algumas composições no estilo muzak (música de lobby, elevador, etc.). Porém, é pouca variada e poderia ser mais bem aproveitada se congregasse com o passo ágil e frenético de gameplay.

Assim como muitos jogos hoje em dia, o título faz um bom trabalho, mas nada excepcional. Por não ser ambicioso e arriscar muito pouco na maioria de seus quesitos, pode passar despercebido por muitos jogadores. Mas se você gosta de um multiplayer local com os amigos e é fã de zumbis ou máfias italianas, esse pode ser um prato cheio para seu gosto.

Pontos positivos:

  • Belos visuais cartunescos como em uma HQ animada;
  • Muitos referências engraçadas à cultura italiana;
  • Modos de jogo multiplayer dão um mais vida ao fator “rejogabilidade”.

Pontos negativos:

  • Desafios de plataforma não são criativos e nem tão divertidos;
  • Sistema de mira apenas em dois sentidos limita o combate;
  • Injusto na distribuição de inimigos quando jogado por apenas um jogador, frustrando bastante e ocasionando diversas mortes.

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